28 agosto, 2006

compro emprego

caso único e inédito, se não fôr desisto já !!!

as regras obrigam um desempregado a procurar emprego, como ainda não encontrei durante mais de 3 anos resolvi tentar obter um através de compra.

pretendo adquirir um emprego pelo valor justo !

não sei ainda a quem vou propôr este negócio, de momento fica aqui !

preciso de um emprego, um trabalho, uma forma de ganhar alguns euros e que respeite a legalidade ... nada de piratarias !

em troca ofereço um imóvel (loja) com o valor actual de 100.000€ situado junto à Quinta da Atalaia, onde é feita a festa anual do Avante, Amora, Seixal.

os pormenores são para acertar e discutir, em princípio basta-me um contrato de trabalho para uns 8 anos, período ao longo do qual poderia receber o valor ajustado mensalmente, etc, etc.

as cláusulas a acrescentar que farão parte do contrato:
em caso de ... isto ou daquilo ... acontece o seguinte ...

agora há que pensar a quem em fazer a oferta ...
e divulgar o meu curriculum, a idade é de 54 anos !

(falta acabar, cedo ficará público)

discriminação etária

Discriminação etária no trabalho é tabu mas existe

diário de notícias
carla aguiar

procura-se colaborador(a) enérgico e entusiasta com experiência e idade até 35 anos." Os anúncios de emprego, repletos de exemplos como este, traduzem uma forma de discriminação menos mediática que a sexual ou racial, mas cada vez mais notória: a discriminação no acesso ao emprego com base na idade. É neste quadro que a Comissão Europeia começa a adoptar iniciativas para travar esta tendência, em esquizofrénico contraciclo com o aumento da esperança média de vida e com o adiamento da idade de reforma.

Bruxelas decidiu eleger 2007 como o "ano europeu da igualdade de oportunidade para todos", planeando uma agressiva campanha de sensibilização para um problema que ameaça o equilíbrio socio-económico da União Europeia. A ideia que se quer fazer passar é a de que "A Europa é mais forte com diversidade", seja ela geracional, racial, sexual ou religiosa. A campanha, que será patrocinada por uma cimeira europeia, segue-se à aprovação de uma directiva, em 2000, que pela primeira vez, abrange a idade no leque mais frequente de factores de discriminação, como o género, a raça, deficiência, religião ou orientação sexual. Mas muitos países pediram derrogações para a sua aplicação, especificamente no capítulo da idade, num sinal de que a idade é, ainda, um tabu económico e social.

Em Portugal, a última revisão do Código do Trabalho, de 2004, já consagra aquela directiva. Mas, como refere um relatório de balanço publicado no site da Comissão "o problema de Portugal é, muitas vezes, a falta de adequação entre a legislação e prática das empresas". Leitura semelhante faz o especialista em Direito do Trabalho Garcia Pereira, que, em declarações ao DN, chama justamente a atenção para o facto de que "uma coisa é a lei, outra é a prática". Aquele jurista não tem dúvidas em afirmar que "a discriminação etária no emprego existe em Portugal, embora seja difícil de provar". A atestar essa realidade estão os vários processos de constituintes em que esteve envolvido,como advogado, apontando, só a título de exemplo, sectores como a banca ou a consultoria.

O Código do Trabalho refere no seu artigo 22.º que "nenhum trabalhador ou candidato a emprego pode ser privilegiado, beneneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão, nomeadamente, de ascendência, idade, sexo, orientação sexual, estado civil, situação familiar, património genético, capacidade de trabalho reduzida, deficiência, doença crónica, nacionalidade, origem étnica, religião, convicções políticas ou ideológicas e filiação sindical".

Mas, como não há regra sem excepção, a lei estipula que já não há discriminação, " sempre que, em virtude da natureza das actividades profissionais em causa ou do contexto da sua execução, esse factor constitua um requisito justificavel e determinante para o exercício da actividade profissional, devendo o objectivo ser legítimo e o requisito proporcional."

A preferência das empresas pelos trabalhadores mais jovens foi explicada, sem rodeios, pelo director de um diário britânico, numa entrevista à BBC: "É muito simples, são mais baratos, porque ainda não sabem qual o seu valor de mercado e, porque não têm família, estão disponíveis para trabalhar mais horas."

A discriminação no mercado de trabalho estende-se, no entanto, para além do acesso ao emprego, tocando também os que já estão no mercado. Disso é exemplo a crescente vaga de "rescisões amigáveis" que as empregas dirigem, sobretudo, aos trabalhadores acima dos 50 anos. O sector bancário é um exemplo paradigmático, tendo lançado, sobretudo nos anos 90, milhares de trabalhadores para as reformas antecipadas. Mas a tendência mantém-se. Só entre 2000 e 2004 saíram 5900 trabalhadores dos cinco maiores grupos financeiros, muitos dos quais ao abrigo de pré-reformas. E as grandes empresas têm cada vez mais orgulho em publicitar, nos balanços sociais, que a média etária dos seus trabalhadores fica aquém dos 40 anos.

Uma estatística do Ministério do Trabalho, revela, por exemplo, que os especialistas das profissões intelectuais e científicas já estão mais representados no escalão entre os 25 e os 34 anos (49,7%) do que no escalaão entre os 35 e os 44 anos (24,2%), ou seja dobro. O que também traduz a cisão geracional das qualificações.

A colocação na agenda europeia da discriminação etária no emprego não deixa de estar relacionada com o aumento da esperança de vida, que está a obrigar vários países a aumentarem a idade de reforma, para aliviarem a pressão financeira do envelhecimento sobre os sistemas de Segurança Social.

Cada vez vivemos mais, mas somos empurrados cada vez mais cedo para fora do mercado de trabalho. Paradoxo que nuns casos chega aos divãs da psicanálise, com o sentimento de inutilidade a favorecer estados depressivos. Noutros, a retirada precoce da vida activa culmina mesmo em empobrecimento.
Ligação à notícia original

discriminações

diário de notícias
eduardo dâmaso

A idade é um factor que pesa cada vez mais no mercado de trabalho. Quem fica desempregado depois dos 40 tem grandes dificuldades no regresso à vida activa. As empresas preferem empregar jovens com remunerações mais baixas e uma enorme disponibilidade que lhes é dada por habitualmente não terem começado ainda a constituir família. São estas as regras implacáveis do mercado de trabalho que começou a desenhar-se sobretudo na recta final do século XX por força do avanço tecnológico. É um mercado que exige elevados níveis de produtividade, grande competitividade, muitas horas de trabalho, múltiplas capacidades, salários controlados em tectos rígidos e uma valorização da carreira que já não depende em exclusivo de factores clássicos como a progressão por tempo de trabalho ou negociações salariais de matriz sindical.

A Comissão Europeia quer travar essa tendência discriminatória com base na idade e vai dedicar o ano de 2007 a uma grande campanha a favor da igualdade de oportunidades. Apro- vou já uma directiva no sentido de impedir a discriminação, mas que não é cumprida pela generalidade dos países. Acrescente-se: não é e muito dificilmente será. A dinâmica do mercado imposta pela concorrência global chega a ser cruel na forma como valoriza a trilogia juventude-qualificação--salários baixos e não a sabedoria e a experiência associadas a trabalhadores mais velhos. Por isso se banalizou a ideia de que há uma geração a que se chamou "dos mil euros", ou seja, de jovens com bons níveis de qualificação, na esmagadora maioria universitários, que ficam anos a ganhar este salário. Por isso está cada vez mais posta em causa a ideia do emprego para a vida ou a de que os direitos e regalias sociais são intocáveis.

A discriminação deve ser combatida, mas é muito difícil fazê-lo apenas com regulamentação. O melhor que cada um pode fazer por si está mais na determinação que tiver em enfrentar o problema do desemprego do que em ficar à espera de uma asa protectora. A formação permanente, a procura de novos saberes, a capacidade de adaptação a novos desafios, a procura de novas formas de ganhar a vida mais ligadas ao empreendedorismo são inevitáveis. Até porque se a concorrência entre trabalhadores já hoje é grande ela tenderá a agravar-se de forma implacável com os níveis de desemprego galopantes entre jovens licenciados que se constata um pouco por todo o lado. É mau, mas é assim que está o nosso mundo.
Ligação à notícia original

02 agosto, 2006

contra discriminação invisível

Não preciso sequer fazer muita ginástica mental para expôr a minha ideia sobre o assunto, o artigo que se segue diz tudo muito melhor do que alguma vez eu o conseguiria fazer, por mim não há razão para desculpas, eu é que agradeço !

Contra a discriminação invisível

Mário Contumélias, Docente universitário
escreve no JN, quinzenalmente, às sextas-feiras

Os leitores que me desculpem, mas hoje resolvi assumir-me. Confesso, sou um cota. Já passei o cabo dos cinquenta, o que significa que não tenho valor de mercado, nem sou "papel" em que se aposte na bolsa de emprego.

Teoricamente, em termos físicos sou uma ruína; no plano mental, uma nulidade. Represento, como qualquer homem ou mulher da minha idade para cima, uma incomodidade para o sistema capitalista alguém que está vivo para além do prazo de validade, "incapaz" de produzir valor, de gerar mais valias como deve ser.

Sou, caros leitores, uma perversão incómoda. Se tivesse decência, educação, boas maneiras, já teria desaparecido. Desamparado a loja. Parado de chatear. Encostado discretamente a um canto.

É certo que cotas há muitos. O presidente da República tem 67 anos, o primeiro-ministro vai fazer 50, o presidente da Assembleia já tem 59; até Belmiro de Azevedo anda nas 68 primaveras.

Como é verdade que Bill Gates soma 53 anos de vida, George Bush, 60, Tony Blair, 53. Ou que Rupert Murdoch já fez 75 e Balsemão está à beira dos 70, sem que fraqueje a sua pujança como imperadores dos Media. Mas estes, e muitos mais nas mesmas condições que poderia citar, não significam nada. São todos "senadores"; excepções que confirmam a regra. Super-homens insensíveis ao factor idade, vulgo PDI.

Os outros, a esmagadora maioria dos acima dos 50, no chamado "mundo civilizado", são vistos como imprestáveis excrescências, que andam a empatar a vida dos jovens activos e dos respeitáveis empreendedores, em busca de sucesso.

Esforçamo-nos por abolir preconceitos instalados. Pregamos a multiculturalidade, repudiamos o racismo, temos leis contra as atitudes sexistas, queremos que se deixe de avaliar alguém em função da sua orientação sexual. Tudo formas de discriminação que a sociedade moderna quer erradicar e muito bem. Mas ninguém, ou quase ninguém, fala da mais letal das formas de discriminação, a discriminação etária. A única invisível.

E sabemos hoje que, para além da força física, o que não conta numa economia de Serviços, os mais velhos são tão capazes como os mais novos. Cometem, até, menos erros. Mas faz de conta que não. Sobretudo, porque os mais jovens reivindicam menos e são mais baratos.

No pé em que estamos, e com a Segurança Social no estado em que está, o aumento da esperança de vida é um paradoxo, uma calamidade. Vive-se mais, para experimentar a discriminação, a insolvência, o drama. E não adianta aumentar a idade da reforma, se não houver trabalho para os mais velhos...

Eu não quero reformar-me, quero a minha parte na divisão do trabalho social, enquanto tiver lucidez e forças. E tenho-as. Uso-as, desta vez, para clamar contra a mais abjecta das discriminações - a discriminação em função da idade.

Ligação à notícia original